
O saxofonista é um músico de rua chamado Joe Gabler; nos últimos 30 anos ele tocou em cada quarteirão de Nova York e já chegou a ganhar, num só dia, cem dólares em moedas. Mas ele também recebe baldes de água na cabeça, latas de cerveja vazias e acontece de ser perseguido por crianças e cães bravos. Vez por outra, em companhia de Carl, seu irmão, um guitarrista magrelo que recende a cerveja, Joe anda 32 quilômetros por dia, sete dias por semana. Joe e Carl foram criados em Lower East Side e estudaram até a terceira série. Mais tarde, Joe foi para um reformatório. E antes de chegar à adolescência, os dois já andavam pelos bares tocando.
"Desde então a gente tem andado aí pelas ruas", diz Joe. "Carl presta atenção nas ruas que percorremos cada dia e nunca vamos à mesma rua duas vezes num ano. O East Side de Manhattan é o melhor em termos de gorjetas, exceto no verão, quando os ricos viajam. Quando vamos aos territórios porto-riquenhos em West Side, sempre tocamos música hispânica e usamos chapéus de palha. Há uma senhora na Forty-Ninth Street que nos dá cinco dólares toda vez que tocamos 'When irish eyes are smiling'".
"O que você faz com todo esse dinheiro?", perguntaram a Joe.
"Ele vai embora", respondeu o músico.
"Vocês nunca vão sair das ruas e arranjar um emprego?".
"Não vamos sair das ruas até o dia da nossa morte", disse Joe em tom dramático.
"Não temos escolha", disse Carl, serenamente.
* Texto de Gay Talese e foto de Bullaty Lomeo *
Créditos para: http://laranjaeacordovestidodela.blogspot.com/2008/12/nova-york-uma-cidade-de-profisses.html
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