sábado, 16 de janeiro de 2010

Aniversário de Oswaldo de Andrade


Oswald, por Tarsila do Amaral, 1923




O paulistano Oswald de Andrade (1890-1954) foi, como se sabe, uma das figuras mais importantes de nosso modernismo. Poeta, romancista e ensaísta, fundou em 1911 o jornal semanal O Pirralho. Em 1912, viajou à Europa e lá tomou contato com as novas idéias literárias. De volta ao Brasil, continuou no jornalismo e passou a escrever os primeiros poemas e romances.

No final dos anos 10, conheceu Mário de Andrade e Di Cavalcanti. Assim começou a discussão de idéias que iria desaguar na Semana de Arte Moderna. Polemista, impiedoso na crítica, Oswald foi o limpa-trilhos do modernismo. Sarcástico, seus manifestos (Manifesto da Poesia Pau-Brasil, 1924; Manifesto Antropófago, 1928) são demolidores. (Clique aqui para ler o texto dos dois manifestos.)

Os dois únicos livros de poesia publicados por Oswald de Andrade foram Pau-Brasil (1925) e Primeiro Caderno do Aluno de Poesia Oswald de Andrade (1927). A influência do poeta estende-se claramente até os dias atuais. Após sua morte, escritores como José Paulo Paes, os poetas concretos e os escritores da chamada poesia marginal beberam extensamente nas idéias do modernista.

José Paulo Paes e, posteriormente, os poetas marginais dos anos 70 e 80 praticaram o poema-piada, recurso lançado por Oswald. Os concretistas, por seu turno, valorizavam em especial a concisão do texto e o discurso anti-retórico presentes na poesia de Oswald de Andrade.

Naturalmente, os pontos abraçados por esses poetas representam o pomo da discórdia com as correntes literárias que se opõem a eles. O poema-piada, por exemplo, é abominado. Quem o critica entende que fazia sentido no primeiro momento do modernismo, quando um dos pontos-chave era manifestar a recusa à linguagem tradicional, ao "lado doutor", como ironiza Oswald no "Manifesto Pau-Brasil". Mas, passada essa fase, o poema-piada teria perdido o sentido com a consolidação das liberdades de expressão artística conquistadas pelo modernismo.

Ironicamente, o primeiro crítico do poema-piada foi exatamente Mário de Andrade, um modernista de primeira hora. Vale ressaltar que, a partir de certo momento, os dois Andrades da Semana de Arte Moderna colocaram-se em campos estéticos opostos. E também em rumos pessoais bem diferentes, já que os dois romperam a amizade em 1929. "O poema-piada é um dos maiores defeitos a que nos levaram a poesia contemporânea", escreve Mário no ensaio "A Poesia em 1930", a propósito do volume Alguma Poesia, de Carlos Drummond de Andrade.

Segundo Mário, "o poema-piada é a única restrição de valor permanente que se possa fazer a Alguma Poesia". Escrito durante os anos 20, o primeiro livro do poeta itabirano tem de fato essa característica protomodernista. (Há quem diga que os poemas-piada de Bandeira e Drummond são de outra estirpe. Mas não vamos entrar nisso, que é outra história.)

Fora da poesia, as idéias estéticas de Oswald de Andrade também tiveram forte reverberação na música popular, no fim dos anos 60, com o tropicalismo. Oswald está presente em várias canções do movimento, como "Tropicália" (Caetano Veloso), "Marginália II" e "Geléia Geral" (Gilberto Gil e Torquato Neto). Em "Geléia Geral", a colagem do letrista Torquato Neto inclui explicitamente mais de uma referência oswaldiana.

Lá está, por exemplo, "A alegria é a prova dos nove", frase que Oswald repete como um refrão no Manifesto Antropófago. Também lá se encontra a expressão "Brutalidade jardim", que vem do romance experimental Memórias Sentimentais de João Miramar (1924). Além disso, há todo um clima pau-brasil em "Marginália II": "entre cascatas, palmeiras / araçás e bananeiras / ao canto da juriti". Dois dos poemas ao lado, "Escapulário" e "Relicário", foram também musicados, respectivamente, por Caetano Veloso (LP Jóia, 1975) e João Bosco (CD Dá Licença, Meu Senhor, 1995).

Na pequena amostra ao lado, procurei destacar alguns dos pontos centrais da poesia oswaldiana. De saída, encontra-se a ironia na "Balada do Esplanada":
"Eu qu'ria / Poder / Encher / Este papel / De versos lindos / É tão distinto / Ser menestrel". Há também exemplares do poema-piada, como "Relicário", "Senhor Feudal", e ainda exercícios líricos marcados pela linguagem enxuta do autor: "3 de Maio", "Ditirambo" (Meu amor me ensinou a ser simples / Como um largo de igreja") e outros. Mas o supra-sumo da concisão está em "Amor", poema de uma só palavra.

By zuil Voustag, créditos para poesianet

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